A Poesia Negra
Solano Trindade, o poeta do povo
LINDA HOMENAGEM essa que a Vickye prestou à África no Dia da Consciência Negra. Assino embaixo de tudo que foi colocado, afinal de contas sou um defensor ardoroso do fim do preconceito racial (e do quindim da vó dela), e reconheço o tempero, o molejo e o colorido que os negros (afro-descendentes o escambau!) trouxeram à nossa cultura. Meu único senão fica por conta dos parabéns, que passeou por gramados, autódromos, palanques e palcos e não citou nenhum poeta negro.
Sendo assim, aproveito a semana comemorativa para homenagear três grandes poetas brasileiros, que, além de talentosos, tinham ainda que dividir seus versos com outras profissões, fazendo da poesia o seu hobby mais precioso. As obras de Luís Gama, João da Cruz e Souza e Solano Trindade foram e sempre serão lembradas 'como que escritas com brasas na pele escura de todo negro, mesmo que não queiram, e mesmo que não saibam'.
João da Cruz e Souza, o Cisne Negro
O catarinense João da Cruz e Souza é considerado um dos maiores poetas do simbolismo do mundo. Advogado e escritor, viveu apenas 37 anos (1861-1898), mas atingiu tal maturidade e ritmo que é considerado o pai do Simbolismo no Brasil.
Ah! plangentes violões dormentes, mornos,
Solano Trindade, o Poeta do povo
Além de poeta, o recifense Solano Trindade era pintor, teatrólogo, ator e folclorista. É reconhecido como o poeta da resistência negra, sobre a qual dedicou a maioria de sua obra. A locomotiva aí embaixo virou até música da banda Secos & Molhados, espia só:
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
pra dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiii!
Estação de Caxias de novo
a dizer de novo
a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem,
Mauá
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando lentamente
começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio do ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuu!
(poema Tem gente com fome)
Luís Gama, o Amigo de todos
O baiano Luís Gama, poeta e advogado, fez do exercício da poesia motivo para tirar bons sarros dos costumes e figuras da época, e da advocacia uma oportunidade para defender e libertar escravos ilegais. Juntou-se a Rui Barbosa, Castro Alves e Joaquim Nabuco na luta pelo fim da escravidão, e conseguiu sozinho libertar mais de mil cativos. Senso de humor era com ele mesmo:
É renga, magricela e presumida,
Com pele de muxiba engrouvinhada;
O corpo de sumaca desarmada,
A cara de muafa mal cosida;
A perna de forquilha retorcida,
Os ombros de cangalha um tanto usada;
A boca, de ratões grata morada,
Maçante na conversa em mal sofrida;
Senhora de um leproso cão rafeiro,
Que, querendo passar por mocetona,
Se besunta com sebo de carneiro;
Vestida é saracura de japona,
De feia catadura, e de mau cheiro,
Eis a choca perua da Amazona.
(poema Retrato)
4 comentários:
E o Mário Quintana????????
O Quintana não era negro, ô mongol!!!
Aaaaaaaaaaaaahhhh ta!
E o Machado de Assis????
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