O barato que sai caro
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O artigo, transcrito aqui na íntegra, além de ironizar esse novo 'estilo de vida', denuncia uma frente do tráfico muito mais complexa de ser combatida: a das bilionárias indústrias farmacêuticas. Quero deixar claro que não sou contra as raves, tampouco contra o uso de drogas. Cada um faz o que bem entender, desde que sua 'viagem' não coloque a integridade dos outros em risco.
Guerra Química
Ingresso para uma festa que nunca acaba: R$ 80. Comprimido para ficar ligado horas a fio: R$ 30. Água mineral para não derreter em meio ao baticum eletrônico: R$ 3. Perder um filho por overdose, sem nem sequer saber onde ele estava, não tem dor que pague ou compense.
Droga sintética é mais cara e mais forte do que maconha e cocaína. Não tem cheiro, não deixa rastro pela casa, é carinhosamente chamada de ‘balinha’ pela garotada. Não vem dos rincões de matutos bolivianos, paraguaios ou colombianos. É feita em laboratórios do 1º Mundo e exportada para cá, embalada num contexto que envolve estética, estilo e atitude. Todos sabem quem tem. Dissemina-se por meio do tráfico formiguinha e solidário, que dispensa subidas ao morro, traficantes armados e drogados ou batida da polícia na volta. Um bate-papo no MSN ou Google Talk resolve tudo.
O baile funk na favela ganhou sua versão elite branca: a rave. A filosofia é a mesma: parece uma festa, mas é uma feira. Cobra-se ingresso, aumenta-se o som e trancam-se os portões. Fecham-se os olhos. Ibiza é aqui. Puro êxtase, sem controle ou fiscalização. Uma carteira falsificada garante a entrada no paraíso. Aos poucos, no noticiário da tevê, saem de cena os pretos magrinhos de bermuda e chinelo, entram em cartaz os brancos de tórax malhado, bermuda e tênis Puma. Atrás deles, os policiais de sempre. Sempre correndo atrás.
A revolução industrial do tráfico, por meio da oferta e do aumento do consumo de drogas químicas, está apenas começando. Mas o estrago que provoca parece irreversível. Um moleque de 17 anos engole uma pílula e seja o que Deus quiser – ou o diabo. Se ele estiver ligado.
Folha de S.Paulo, 06/nov
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Um comentário:
Não tinha lido essa matéria....
Inda bem que balinha aqui em casa é só jujuba, viu...
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