2 de mar. de 2008

Um cowboy na terra do Poetinha



NA SEMANA QUE VEM, mais precisamente de 05 a 08 de março, o homem mais influente da história da música yankee se apresentará no Brasil. São Paulo e Rio de Janeiro foram as cidades escolhidas para abrigar o show de Robert Allen Zimmerman, o lendário Bob Dylan. Sim, lendário: Dylan é um dos raros artistas que fazem por merecer a portentosa alcunha, de minha parte empregada a não mais que duas dezenas de 'music stars' ao longo de toda a história. Dentre eles, Bob Marley, Stevie Wonder, John Coltrane, Marvin Gaye, Elton John, Michael Jackson, Chico Buarque e Vinícius de Moraes.

E foi justamente do poeta brasileiro que me lembrei quando Dylan confirmou sua vinda para cá. Não por suas performances ao microfone - Vinícius era ruim de doer, e Bob admitiu que parece um pato cantando -, mas pela influência que tiveram na música norte-americana (Dylan) e na MPB (Vinícius).

Dylan e Vinícius: olhar distante e compenetrado

A começar pelo talento com a pena: se Vinícius, após se entregar de vez à sua arte, recebeu o apelido de 'Poetinha' - Drummond ocupava o posto de 'poeta' da época - por seus poemas atrevidos e que exalavam amor e entrega a cada verso, Dylan não deixava por menos. Desde os dez anos começou a rabiscar suas primeiras rimas. Não tão apaixonadas como a do brasileiro, é verdade, mas de uma genialidade poucas vezes antes vista em Minnesota, estado natal do cantor.

Quando passou a compor canções, Dylan, que como qualquer garoto de sua época babava por Johnny Cash, mergulhou no folk - escolha mais do que acertada, como comprovaram seus primeiros trabalhos-solo e parcerias inesquecíveis, como a que fez com a encantadora Joan Baez, musa maior do gênero.

Dylan e Baez ao vivo, mandando "Blowin' in the wind":



Dylan com Baez, Vinícius com Bethânia

Parceria foi o que nunca faltou na trajetória de Vinícius. Ao longo de três décadas, o carioca fez dupla com os maiores ases da música brasileira. Tom Jobim, Baden Powell, João Gilberto, Gilberto Gil, Toquinho, Pixinguinha, Carlos Lyra e Chico Buarque são alguns dos jovens que brindaram com o matreiro e beberrão poeta da MPB.

Vinícius, sempre bem acompanhado: Tom, Baden, Toquinho e Pixinguinha

Com o passar do tempo, Dylan e Vinícius, como caras desbravadores, inquietos e comprometidos acima de tudo com a arte, a poesia e a sua verdade, foram se redescobrindo. Sem medo de mudar, resolveram se arriscar em novas empreitadas. O brasileiro, hipnotizado pelos violões de João e Baden, se entregou de corpo e alma à bossa-nova, estilo que, poucos anos depois, viraria símbolo da música nacional pelos seis continentes.

Já o americano resolveu dar um tempo com o folk e as letras de protesto, e passou a flertar com seu universo particular e os plugados - era o rock'n'roll entrando na vida de Bob Dylan. Graças a ele, hinos como "Knockin' on heaven's door", "Hurricane" e "Just like a Rolling Stone" puderam vir ao mundo (esse último foi considerado pela revista Rolling Stone simplesmente a melhor música de toda a história).

Por falar em melhor música de toda a história, se fôssemos fazer um pot-pourri com as representantes brasileiras, certamente teríamos a presença de Vinícius de Moraes em ao menos metade delas. Seja como autor ('Chega de Saudade', 'Garota de Ipanema', 'Aquarela do Brasil', 'Eu sei que vou te amar' etc.) ou como fonte de inspiração (rebentos de Chico Buarque, Caetano, Tim Maia e cia.).


Pioneiros, polêmicos e com muito a dizer


Por uma questão de desencontro carnal, não pude aplaudir Vinícius, que fez a passagem no final da década de 70. Por outra de geografia (e de carteira), não poderei comparecer ao show de Dylan. Mas se você tá pertinho (e tem bala na agulha), ainda é tempo de garantir presença. Afinal de contas, não é todo dia que se pode estar frente a frente com o cara que deu a diretriz da carreira de lendas como os Beatles, Pearl Jam, Bruce Springsteen, Eric Clapton e Rolling Stones.



"Mr. Jones and me stumbling through the barrio
Yeah we stare at the beautiful women
She's perfect for you, man,
there's got to be somebody for me.
'I wanna be Bob Dylan' Mr. Jones wishes
he was someone just a little more funky
When everybody loves you, oh, son,
that's just' bout as funky as you can be"



2 comentários:

Anônimo disse...

Desde quando vc curte Marvin Gaye Benja????

Thiago Padula disse...

O próprio Mr. Jones (o personagem, não a música) é criação do Dylan, na genial Ballad of a thin man. Dia 6 estarei lá, e mesmo que isso tenha me feito ter que passar a semana com cinco reais, tô felizão =)

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