Chester Reloaded
NATAL É UM TROÇO não muito animador quando em seu CEP consta "Nova Piripirí". É claro que por aqui rola todo aquele rango agridoce, as luzinhas, tia Simone, tio Robertão, fios de ovos e tudo o mais. Mas confesso que não é das datas que me fazem soltar rojões (a não ser quando a mãe calibra no tempero do risoto).
E é por isso memo que, ao invés de lançar um post natalino xuxu beleza, vou fazer um ctrl c + ctrl v do post bunitão naipeado que o Jo-jo escreveu uma translação atrás.
Um natal gostosão a todos!!!
E pega leve com o peru, tadin...
AH, O NATAL!
Não há, em nenhum dos feriados do calendário, sequer um paralelo com o nascimento do mestre Jesa - e que de uns bons tempos pra cá acabou eclipsado pelas renas voadoras do velho Noel. Até curto o lance do coelho, de pular as ondinhas e do arraiar danadibão que fazemos na pracinha daqui de Piripiri. Mas nada melhor que um natalzinho pra colocar todas as fofocas da família em dia, vai dizer?
Na noite de véspera, a primeira a chegar é sempre a tia gorda. O chester mal apitou no forno e lá está ela a postos, com o vestido-cortina de todos os anos e aquele sorriso que entrega a papada e os pés de galinha. Muito solícita desde que virou desquitada, é ela quem passa a ficha de 1 por 1, preparando o terreno para plantar a semente da discórdia.
Depois vem vovó e vovô. Ela toda esvoaçante e glamourosa: cachecol de seda, unhas feitas, laquezão reinando absoluto e rastro de lavanda por onde passa. Ele com cara de sono e aquele mal-humor ranheta por ter de esperar pelo menos mais duas horas para tascar o garfo nos assados. Por hora, ele se dá por satisfeito com as nozes, castanhas e outros acepipes dispostos na mesinha de centro, situada a uma altura irrisória - só é possível alcançá-la sentado no chão onde dorme Fidel, nosso chihuahua highlander de 19 anos.
Enquanto vovó confere as sobremesas na geladeira, o toque ritmado da campainha anuncia a chegada do tiozão mala. Esse tenho certeza que tem aí também! Aquele Zé Graça, com sorriso eterno nos lábios, que não consegue passar 5 minutos sem soltar uma piadinha infame. Tipo "isso é bife à milanesa ou bife ali na mesa?"; "boa essa torta, hein? Imagine se fosse direita!"; "todo mundo passou perfume para sair na foto?", e outras pérolas do gênero.
Ele trata logo de abrir uma latinha, pegar um lugar estratégico na mesa e contar uma de suas inúmeras histórias de pescador, temperadas com anedotas infames repassadas a cada ano. E é durante uma delas que chega o "primo que tá namorando". Digo assim, genericamente, porque a cada ano é um primo que traz uma namorada inédita. Obviamente a tia gorda já repassou a ficha da pobre coitada, que recebe olhares atentos de todos quando adentra a casa (inclusive do vovô, que procurava desesperadamente um pistache intacto no meio da montanha de casquinhas).
O silêncio só é interrompido pelo tilintar do sininho estridente, anunciando a chegada do Papai Noel (mesmo na família só tendo eu e mais três priminhos que já tão carecas de saber que é só o Tio Mala com uma barba ridícula e meia dúzia de latinhas na cabeça, essenciais para o sotaque irlandês do Ho-Ho-Ho!). Aí começa todo aquele teatrinho patético, seguido pela troca de presentes ("poooxa, mas não precisava se incomodar!") e uma salva de palmas, agradecendo a presença do bom velhinho.
Por obra de mamãe, sempre metódica, o fim das palmas vem oportunamente acompanhado do badalar da meia-noite, o que quer dizer sinal verde para atacar a mesa! Nessa hora algum tipo de mágica acontece, porque mal pego a colher para inaugurar meu prato no arroz com passas e vovô já está no último pedaço do chester, com os fios de ovos escorrendo pelo bigode.
Na hora de sentar na mesa faço de tudo para escapar do Tio Mala. Mas o pentelho sempre dá um jeito de pegar uma cadeira do meu lado e perguntar como vão as menininhas, se "setembro chove", "o a tem som de u" e outras relíquias de seu acervo particular, enquanto destroça a coxa do peru.
Em meio às sobremesas ("é pavê ou pa comê?"), papai puxa o brinde, a primaiada levanta as tacinhas de plástico e até Fidel desperta da hibernação. Enquanto isso vovô, revigorado e já meio trililí, inaugura o videokê com seu tradicional 'ô sole mio'. A casa vem abaixo em aplausos quando o velhote, a essa altura completamente entregue ao espírito de Pavarotti, solta o último refrão.
O grand finale fica por conta da tela da tevê que, falsa que só ela, anuncia que ele é 'praticamente um profissional', motivo de sobra para uma competição de talentos que segue noite adentro - regada à gargalhadas, gritos de 'marmelada' e muita coca-cola.
Aaahhhhhhhhhhhh, o natal!
Um comentário:
ahahahhaha...
"Chiuaua highlander" foi a cereja do bolo!
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