16 de nov. de 2008

Requentar é viver: Tio Melão e Tia Dalva na terra dos E.M.O.'s



ENTRE RAZÕES e emoções, a saída é o Ipod mesmo. Ô meu pai! Toda vez que sintonizo o rádio, seja em qual estação for, escuto as razões, emoções, perdas, confissões e outros versos choramingados por uma das bandas produzidas pelo midas do pop, Rick Bonadio. Todos dizendo a mesma coisa: você vai voltar, sempre vou te esperar, queria te esquecer, sem você não dá, dentre outras pérolas da onda emo que vem fazendo a cabeça da molecada.

Eu poderia seguir em frente detonando sem piedade as franjinhas, calças justas, sombras nos olhos e outras manias ridículas dos sentimentalóides, mas hoje entrei aqui para falar sobre outro assunto: os nomes das bandas.

É curioso como a falta de criatividade nas composições acompanha a hora da escolha do nome do grupo. Até o começo dos anos 90, com destaque para a geração dourada do final dos 70's e 80's, as paradas de sucesso tocavam Os Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii, Biquíni Cavadão, Ultraje a Rigor, Titãs, e, lustrando um pouco a vitrola, Novos Baianos, Secos & Molhados e Os Mutantes. Bandas que tinham algo a dizer, e faziam de suas letras mais do que pretextos para chegar a um refrão grudento e repleto de verbos no infinitivo.

Agora, a coisa virou do avesso. Quem aparece nos programas de auditório, clipes e vitrines das lojas de CD são siglas e trocadilhos infames, tão vazios no repertório quanto em seu nome. CPM 22, NX Zero, Hateen, Tihuana, Moptop, KLB: pegue todas as letras e tente formar uma palavra com algum sentido. Se conseguir, mande pra mim - te dou um CDzaço autografado pelo 'Forfun', que tal?


O buraco negro imaginário em que caíram essas bandas não se restringe ao pop/rock. Ele passa pelos redutos de samba e pagode, e atinge até as duplas sertanejas. Ou vai dizer que Bruno & Marrone, Edson & Hudon, César Menoti & Fabiano e Marlon & Maicon servem ao menos para carregar a viola de Zé Rico & Milionário, Tião Carreiro & Pardinho ou Rio Negro & Solimões?

Nem aqui, nem em Barretos! E que dirá em São João do Piritinga, onde os sertanejos de verdade dão risada das coreografias dos cowboys genéricos, enquantam pigarreiam e enrolam outro cigarro de palha.

A frutífera reflexão acima me levou ao funesto poeminha abaixo, um lamento para os anti-siglas e um singelo sinto muito pr'aqueles que engolem a seco os jabás do circuitinho:

A Serelepe e o Melão
No Fundo do meu Quintal
meu tio Melão curtia uma Garoa
ao som dos bons e velhos Demônios,
sempre com uma rima inusitada
debaixo do pandeiro, numa boa.

Enquanto isso,
a voluntariosa tia Dalva
preparava o Mocotó
e seguia atrás do Trio
Mascando Chiclete
e descascando a Banana alheia,
sem-vergonha que só.

O Chiclete e a Banana
parecem não perder o embalo,
mas agora quem os acompanha
nos palcos, eu vos falo:
atendem por Sorriso Maroto,
Doce Encontro,
Refla e Kiloucura.

Nos novos tempos,
Tio Melão se deu mal, coitado!
Descobriu o cri-crí
e entrou para a igreja
de Marcelo, o abençoado

Já Tia Dalva, a serelepe
passou a fazer chapinha
virou adepta do espartilho e da sainha
e foi curtir o show do Jeito Moleque!




6 comentários:

Anônimo disse...

adorei o texto! nao podemos esquecer q as raves e micaretas tomaram conta do q antes eram chamadas "canções de protesto" os jovens hj nao pensam nisso
bjo re

Sérgio Vieira disse...

Meu, eu queria ter essa imaginação mirabolante que vc tem Rezão!!!
CDzaço autografado pelo Forfun é foda! rs rs rs

Abraços seu loko

Renato Sansão disse...

Informamos que o texto em voga é de autoria de John Calzonne.

Thiago Padula disse...

Lá vou eu defender o indefensável, mas Moptop é o nome do penteado que se usava lá pelo começo dos anos 60, tendo sob suas franjas gente do naipe dos... Beatles.

E eu vou dizer, eu não gosto de um monte de coisa, mas sempre parto do princípio que, se aquilo é bom pra alguém, é bom e acabou. Mas o emo me dá asco. E não me refiro ao emo lifestyle, falo das músicas mesmo, deus me livre.

d. disse...

O.o

Anônimo disse...

Já leu 1968- o que fizemos de nós??

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