3 de nov. de 2008

Eles estão entre nós

SEMPRE QUE PASSO em frente à banca do Tobias, me deparo com o cabide de livros que fica ali de pé, tomando conta da porta. Lá estão bíblias da auto-ajuda, quadrinhos sortidos que vão de Mafalda a Hagar e aqueles clássicos ageográficos (?) e atemporais, que carinhosamente apelidei de Gasparzinhos da literatura.

Não são poucos os nomes que compõem a fauna fantasmagórica. Rebuscados e difíceis de pronunciar (são excelentes para papagaios e cachorros), eles vêm de diversos países, épocas e culturas. Em comum, trazem o tamanho pocket, as letras dos títulos carregadas e a foto dos autores em pretibranco, fazendo aquela pose blasé que remete a eternos como o velho Shakes, Camões e outros mestres do bolor.

Confesso que três deles, em especial, sempre me chamaram a atenção. Schopenhauer, Tolstói e Bukowski parecem diferentes dos outros fantasmas. Seriam fantasmas camaradas? Não sei nadica de sua biografia: de onde vieram, o que fizeram-pensaram-pregaram, e para onde foram. Fato é que o trio, presente em todas as (cinco) bancas da cidade, me cativou.

Mas diabo, se simpatizo com os danados, por que até agora sequer peguei um deles no colo para brincar?

Não é pelo tamanho irrisório, nem pelas letras fúnebres dos títulos. Também nada tem a ver com a falta de fotogenia dos autores-fantasma, bobagem. Acontece que tudo que sai do popular e palpável para se tornar um clássico condecorado me afasta, como que por mágica.

Livros, filmes, canções: se enxergo seu significado no dia-a-dia, num instante os leio, assisto, escuto com atenção e simpatia. Mas, quando ganham o rótulo de obras-primas e prêmios e floreios e cadeiras, uma cortina esfumaçada paira sobre eles, criando um campo magnético invisível entre minha mão e o cabide. Se chegar perto dá choque.

Schopenhauer, Tolstói, Bukowski, Dostoiévski, Maiakóvski, Sartre, Kafka. Bethoven, Chopin, Zappa, Ray, Piaf, Vila-Lobos. Cidadão Kane, Casablanca, Carmen Miranda, Mazzaropi, Godard, Mágico de Oz. Os Gasparzinhos estão por todas as partes, das cartas apaixonadas e suicidas às prateleiras de ponta de pé das livrarias e locadoras.

Acredito até que, lá no fundo, eles só querem interagir e mostrar que pode chegar perto e fazer carinho, eles não mordem. Mas não é nada fácil desatar o nó dos preconceitos, esteriótipos e paradigmas. Mesmo quando a chance está logo ali, na banca da esquina.




3 comentários:

Anônimo disse...

Jo-jo,

O velho Buka é uma boa pedida. Boêmio, malandro e 171, bem na sua pegada. Vai sem medo que é caixa!!

Anônimo disse...

Buuuuuuuuuuuhhhhhhhhhh!!!

d. disse...

Schopenhauer, Tolstói, Bukowski, Dostoiévski, Maiakóvski, Sartre, Kafka. Bethoven, Chopin, Zappa, Ray, Piaf, Vila-Lobos. Cidadão Kane, Casablanca, Carmen Miranda, Mazzaropi, Godard, Mágico de Oz. Os Gasparzinhos estão por todas as partes, das cartas apaixonadas e suicidas às prateleiras de ponta de pé das livrarias e locadoras.
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a mais pura verdade!

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tem alguns aih q naum deveriam ser fantasmas, mas sim, companheiros diarios de cabeceira!

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