29 de fev. de 2008

Sinal dos Tempos


TRÊS IRMÃS, uma de 15, uma de 11 e uma de 7 anos estão passeando pelo bosque, quando se deparam com um casal pelado mandando bala atrás da moita.

Vendo aquela cena cabulosa, a mais velha dá um migué, para amenizar a situação:
– Olha que bonitinho, aquele casal brincando atrás da moita.

A de 11, então, diz:
– Que nada... eles tão é fazendo sexo!

A caçula, muito observadora, completa:
– E muito do mal-feito!!!






26 de fev. de 2008

2008: Hollywood encontra o mundo


A CERIMÔNIA DO OSCAR, que chegou este ano à sua 80ª edição, foi certamente a mais sóbria dos últimos tempos - refletindo o momento de transição pelo qual passa a maior indústria cinematográfica do mundo. Os discursos inflamados, shows performáticos e vestidos purpurinados da alta costura deram lugar às declarações espontâneas dos vencedores, ao humor certeiro do mestre de cerimônias Jon Stewart e à consolidação da geração que dará as cartas na próxima década Hollywoodiana.

Ao contrário das últimas edições, dominadas pelos Blockbusters rapa-bilheteria (Senhor dos Anéis, Homem Aranha, Piratas do Caribe, King Kong), a premiação - mesmo as categorias técnicas - foi tomada por filmes 'convencionais' e muito menos maniqueístas que seus antecessores.

Bardem, com os irmãos Coen: os donos da noite

Conforme o esperado, a sensação da noite foi o thriller-western 'Onde os fracos não têm vez', escrito e dirigido pelos excêntricos irmãos Coen. A dupla levou para casa as estatuetas de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção e Melhor Filme do ano. De quebra, o espanhol Javier Bardem faturou a de Melhor Ator Coadjuvante, por sua assombrosa atuação como o incansável assassino-psicopata da fita.

Se 'Sangue Negro' perdeu os principais prêmios da noite, ao menos viu seu protagonista levantar o careca de Melhor Ator. Daniel Day-Lewis, que na premiação estava mais para amigo de Jack Sparrow que pro sanguinolento Daniel Plainview, recebeu das mãos da rainha Helen Mirren o troféu (que, cá entre nós, já tinha seu nome cravado desde sua confecção).

Day-Lewis confirmou o favoritismo e levou seu segundo troféu


A grata surpresa da noite ficou por conta da presença da francesa Marion Cotillard no palco. Correndo por fora por sua (impressionante) interpretação de Edith Piaf, a bela atriz ficou surpresa e emocionadíssima ao receber a estatueta de Melhor Atriz das mãos de Forest Whitaker. Com o rosto entre as mãos, a jovem atriz não cabia em si de tanta excitação. Agradeceu a meio mundo, aos 'anjos de L.A'. e voltou saltitante para a terra dos irmãos Lumière.


Cotillard, emocionada: eternizando Piaf

E para quem pedia por um sopro de frescor, a contemplação veio logo com uma baforada na nuca: Brook Busey - vulgo Diablo Cody -, um mix de Cleópatra, Penélope Nova e Melindrosa, arrebatou o Oscar de Melhor Roteiro Original. Ex-striper e agora queridinha das produções 'alternativas' do circuito, a roteirista de 'Juno' desbancou profissionais mais experientes e tarimbados e levou o único prêmio do azarão da noite.


Diablo Cody manda beijinhos: único careca de 'Juno'


Day-Lewis, Bardem, Cotillard, Cody. Um inglês perfeccionista, um espanhol polivalente, uma francesa promissora e uma norte-americana despirocada. Em comum, além do inegável talento, eles trazem a idéia de um cinema universal, autêntico e focado naquilo que nenhum efeito especial substitui: as relações humanas.


* Lista cumpleta dos vencedores da noite:

Melhor Filme
'Onde os Fracos Não Têm Vez'

Melhor Diretor
Ethan e Joel Coen ('Onde os Fracos Não Têm Vez')

Melhor Ator
Daniel Day-Lewis ('Sangue Negro')

Melhor Atriz
Marion Cottilard ('Piaf - Um Hino ao Amor')

Melhor Ator Coadjuvante
Javier Bardem ('Onde os Fracos Não Têm Vez')

Melhor Atriz Coadjuvante
Tilda Swinton ('Conduta de Risco')

Melhor Filme Estrangeiro
'The Counterfeiters' (Áustria)

Melhor Figurino
'Elizabeth - A Era de Ouro'

Melhor Animação
'Ratatouille'

Melhor Maquiagem
'Piaf - Um Hino ao Amor'

Melhor Fotografia
Robert Elswit ('Sangue Negro')

Melhor Efeitos Especiais
'A Bússola de Ouro'

Melhor Direção de Arte
'Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet'

Melhor Roteiro Adaptado
Ethan e Joel Coen ('Onde os Fracos Não Têm Vez)'

Melhor Roteiro Original
Diablo Cody (Juno)

Melhor Edição de Som
'O Ultimato Bourne'

Melhor Mixagem de Som
'O Ultimato Bourne'

Melhor Montagem
'O Ultimato Bourne'

Melhor Canção
Falling Slowly ('Once')

Melhor Trilha Sonora
Dario Marianelli ('Desejo e Reparação')

Melhor Documentário em Longa-Metragem
'Taxi to the Dark Side'

Melhor Documentário em Curta-Metragem
'Freeheld'

Melhor Curta-Metragem
'Le Mozart des Pickpockets'

Melhor Animação em Curta-Metragem
'Pedro & O Lobo'



22 de fev. de 2008

Duas histórias, uma só pena


TALENTOSOS, CARISMÁTICOS, mulherengos, solidários, precoces. Surgiram para seu esporte aos 17 anos, quando os olhos de todos se voltavam a dois 'baixinhos' - um sorridente argentino naturalizado brasileiro e um marrento brasileiro chacal de argentinos.

Ligados a causas sociais, sempre fizeram questão de ajudar comunidades e entidades, daqui e do estrangeiro. Persistentes, enfrentaram contusões, rompimentos, torções, luxações e convulsões. Com sua pose de bons moços aliada à recente projeção e ao bom porte físico, tiveram em seu coração e em sua cama mulheres maravilhosas, das mais cobiçadas do planeta. Também por causa delas, deixaram sua outra paixão de lado, e viram seu reinado ser ameaçado.


Suportaram a dor - e as críticas conseqüentes - calados, como uma criança que é obrigada a engolir o choro no auge da injustiça a qual se vê acometida. Perseverantes e de bem com a vida, souberam dar a volta por cima e recomeçar, quantas vezes fosse preciso. Gelo, fisioterapia, alongamento, comida da mãe e divã foram ingredientes essenciais em sua escalada rumo ao topo, lugar que, com o passar dos anos, foi ficando cada vez mais distante para a dupla. Até virar inatingível.


O roteiro das vidas de Ronaldo Nazário de Lima e Gustavo Kuerten parece ter sido escrito pela mesma pena. Com carreiras repletas de altos além das nuvens e baixos no calor da picada do tridente, o dentucinho e o cabeludo chegam ao seu epílogo. Com a terceira década de vida recém-inaugurada, eles partem agora para a próxima etapa, trocando de vez o físico pelo psicológico.

Guga enfim vai poder pegar suas ondas sossegado, se dedicar aos projetos sociais de Santa Catarina e descobrir potenciais candidatos a número 1 do tênis mundial. E Ronaldinho, que poderá se tratar sem a pressão de voltar a ser o fenômeno de outros tempos, deverá realizar seu sonho de vestir a camisa do Flamengo, receber todo o carinho da massa rubro-negra e ter uma despedida à altura do centroavante mais fantástico que já pisou nos gramados de Belo Horizonte, Eindhoven, Barcelona, Milão e de Madrid.

Bravo, Guga. Viva Ronaldo!


21 de fev. de 2008

A ruim e a péssima


O MÉDICO LIGA para o paciente.

– Seu Alfredo, seus exames ficaram prontos.

– E aí, doutor? Tudo bem?? Me safei???

– Bem nada, rapaz! Tenho duas notícias para te dar: uma ruim e uma péssima.

– Caramba... Diz logo, qual é a ruim?

– Você só tem 24 horas de vida.

– 24 horas? Ah, meu Deus, não pode ser! E agora, o que farei??? E.. e a péssima?

– Tentei te ligar ontem o dia todo, mas só dava ocupado!





Zebra de Elite


Asterisco prefacial, oportuno para o post:

*Zebra: eqüino típico das savanas africanas, notável por sua coloração alvi-negra em forma de listras. Por conta desse chassi atípico, virou sinônimo de resultado inesperado, contrário aos prognósticos. É comumente usado no futebol e na loteria (no jogo do bicho tem praticamente um zoológico inteiro, mas não tem zebra).

SE AO BATER o olho na foto você ainda ficou em dúvida do que se trata, explico: o moço simpático de touca e cachecol é José Padilha, cineasta e diretor do excelente documentário 'Ônibus 174' e do polêmico e aclamado 'Tropa de Elite', filme que bateu todos os recordes de audiência e repercussão no Brasil em 2007. Ao lado dele, um ursinho dourado, justamente o prêmio mais cobiçado pelos indicados do Festival de Berlim, uma espécie de Oscar alternativo (para muitos, a única premiação realmente séria do cinema) .

Como as zebras felizmente não se restringem aos campos de futebol e às loterias, o cavalo cor-sim-cor-não resolveu dar o ar da graça na Alemanha. Padilha e sua trupe já se preparavam para retornar ao Brasil de cabeça baixa e mãos vazias ('Tropa' foi mal recebido no início, e o descaso com o filme era tamanho que a sessão feita para os jornalistas ocorreu sem tradução ou legendas em inglês, o que dificultou sua compreensão). Quando estavam comprando as passagens, eis que um telefonema da academia liderada pelo cineasta grego Costa-Gravas anuncia que o filme brasileiro havia ganhado um prêmio.

Um prêmio não - O prêmio. Ha-há! A zebra brasileira desbancou os puro-sangue 'Sangue Negro' e 'Happy-go-lucky' e arrebatou nada menos que o Urso de Ouro de melhor filme, prêmio maior da noite. José Padilha não cabia em si de tanta felicidade, e após os agradecimentos de lei à toda equipe e elenco, discursou:

"É a vitória do estilo brasileiro de filmar (...) Independente de terem ou não gostado do filme, o importante é o debate que ele causou."

Ponto para o diretor. Em premiações recheadas de filmes artísticos, técnicos, 'profundos' e metafóricos ao limite, nada como o olhar acalentador e a simplicidade de Fernanda Montenegro ('Central do Brasil' foi Urso de Ouro em 1998) e a fúria irrefreada de Wagner Moura Nascimento, para subverter a lógica e colocar a zebra novamente no olho do furacão.

Afinal de contas, a gente não quer só arte. A gente quer a vida, diversão e... E o quê, mesmo?



15 de fev. de 2008

É bá e bola!

DEPOIS DA PRÉ-TEMPORADA feita à base de suco de cevada, praia, confete e muita folia, enfim os clubes brasileiros começam a mostrar seu novo chassi. Nesse primeiro mês de bola rolando, quicando - e principalmente espanando -, muitas surpresas agradáveis, algumas decepções e uma certeza: os times estão anos-luz à frente do que vimos no ano passado.

A seguir, uma pingada nos destaques desse ponta-pé inicial. Como diria o simpático Elias Jr., é bá e bola!


O time mineiro em festa: começo arrasador

A Toca da Raposa começou o ano em festa: o time comandado pelo ex-zagueiro Adilson Baptista venceu o sempre-encardido Cerro Porteño (categoricamente) duas vezes e passou para a fase de grupos da Libertadores. No 1º jogo 'oficial' pelo torneio sul-americano, um sapeco de 3x0 no frágil Real Potocó com atuação de gala do volante Ramires, que já pode começar a sonhar com um tour na China no meio do ano.


Thiago Neves comemora uma de suas três pinturas no Maracanã

No Rio, o Campeonato Carioca começou sem maiores surpresas: Fla, Flu, Vasco e Botafogo confirmaram seu favoritismo e atropelaram quase todos os adversários sem dó. Destaque para o alvi-negro do técnico Cuca, que, mesmo com praticamente um time inteirinho novo, se entrosou rapidamente e já está de olho na Taça Guanabara. Renato Gaúcho é outro que vem surpreendendo: aos poucos, o técnico do Tricolor Carioca vai conseguindo entrosar seu fabuloso trio de atacantes, sem descuidar da retaguarda. A exemplo do ano passado, Thiago Neves segue jogando o fino: contra o Mengão, 3 golaços e os aplausos do exigente treinador.

Já na capital paulista, quem diria: nem o São Paulo de Adriano, nem o Corinthians de Mano. Nem o Santos de Kléber Pereira, e muito menos o Palmeiras de Valdívia - quem dá as cartas são os 'pequenos' Guaratinguetá e Ponte Preta. O time de Guará emendou uma sequência expressiva de bons resultados (sete vitórias seguidas, uma delas um chocolate de 3x0 no Verdão), e tem no volante Alê, no meia Michel e no avante Dinei o tripé responsável pela surpreendente campanha. A Macaca - depois de fazer boa figura na série A2 do Brasileirão de 2007 - parece finalmente ter voltado aos seus dias de bom futebol. Puxado pelo habilidoso Renato e pelo fogoso Marcelo Soares, é o time que apresenta o futebol mais vistoso do campeonato.

Adriano vai pro chuveiro mais cedo: o Imperador ficou em Milão?

Os quatro 'grandes' até agora não mostraram a que vieram. Adriano, que pode pegar uma suspensão de 120 dias por agressão ao zagueiro Domingos no último San-São, não vem correspondendo às expectativas, e a zaga está longe daquela intransponível do Tricolor de 2007.

Após 8 jogos, o Palmeiras ainda não se encontrou em campo - coisa que deve acontecer com a chegada do zagueirão Henrique, do meiúca Léo Lima e dos atacantes Kléber e Denílson. Luxemburgo, reverenciado por seus dons estratégicos, parece um pouco perdido: já testou tanto esquema diferente que não há sequer um torcedor palmeirense que saiba hoje a escalação do time. Agora, aqui entre nós: quem tem Marcos, Pierre, Diego Souza, Valdívia, Alex Mineiro e Denílson, tem a OBRIGAÇÃO de chegar entre os finalistas do Paulistão.

Denílson no Verdão: última chance de mostrar do que é capaz


Já o time do Parque São Jorge segue o caminho contrário: sem estrelas e com muita pegada, parece ter se acertado no setor defensivo (Chicão e William parecem jogar juntos há anos, e André Santos cai muito bem pela esquerda); vê os garotos Lulinha e Dentinho chamarem a responsa e, assim que Acosta entender que veio para ser Robin - e não Batman - o ataque deverá engrenar. Pra quem viu a lástima de 2007, o time atual tá bom pra mais de quilômetro.

Ademais, vale citar a devastação que o Furacão Paranaense vem causando em seu estado: foram 30 pontos conquistados em 10 jogos. Com isso, Ney Franco prova que a ascensão do Flamengo no ano passado nada teve a ver com sua saída, e que é sim um treinador de primeiríssimo escalão.

E o Ronaldinho... Ah, Ronaldinho! Esse dejà vú era tudo que você não precisava, meu caro. Fenômeno, tu já provaste para todo o mundo do que és capaz. Se entender que agora é a hora de parar, estarei contigo. O próximo post será inteirinho dedicado a você.




12 de fev. de 2008

Minerin no buteco


FIM DE TARDE, sol se pondo às suas costas, o mineirinho adentra um boteco para matar a larica, quando se depara com um mini-painel acima do balcão:

PINGA - R$ 1,00
CERVEJA - R$ 2,50
PÃO DE QUEIJO - R$2,00
CARÍCIAS NO ÓRGÃO SEXUAL - R$ 5,00


Ele passa vagarosamente os olhos pelo extenso cardápio e checa a situação da carteira, pra não passar vergonha na frente das garçonetes.

- Ô moça!

- Sim, em que posso ajudar?

- Mi diz aqui uma coisa... É ocê qui caricia os órgão sexuar dos fregueis?

- Sou eu mesma! - respondeu a garçonete, jogando todo charme que conseguiu reunir detrás do balcão.

- Intão faiz favor e lava bem as mão, que eu quero um pão de quejo.



11 de fev. de 2008

Índio, sim...Crasia???


AO CONTRÁRIO DA maioria do pessoal de Nova Piripiri, quando chega o fim de semana não faço questão de sair, correr, pular, nadar, ver toda a família e badalar com os amigos. Prefiro ficar na minha toca assistindo filmes, lendo e brincando com o Trótski, o vira-lata peludo que apareceu na rua em plena noite de natal, e que resolvemos incorporar à família Calzonne.

Pois justamente nesse último domingo estava lá eu deitadão no meu puff (a almofada, não aquele urso idiota), quase entregue ao deus Hypnos - enquanto lia desinteressadamente um artigo da Gazeta de NP - quando me deparei com a tal da palavra: Indiossincrasia. Assim mesmo, sem hífen nem acento. Para piorar, estava encaixada no texto de forma totalmente desconexa, o que me impediu de procurar por um sinônimo nos meus arquivos encefálicos. Talvez algo relacionado aos indígenas, quem sabe...

Encimesmado com o funesto vocábulo, parti para o pai dos burros: I... IN... INDILIGENTE... INDILIGÊNCIA... ÍNDIO... INDIRETA. Epa! O que aconteceu com a Indiossincrasia? Parece que o seu Aurélio, o doutor Luft e o mestre Houaiss, com vergonha de dizer que não faziam idéia de seu significado, fagocitaram a pobre coitada.

Destemido, parti para o tio dos burros: uncle Google! Depois de ir até o quarto 'ozinho' da busca, enfim encontrei - em dois blogs - as explicações, transcritas a seguir:

1. Indiossincrasia: maneira de reagir própria, especial e única de cada pessoa. Uma espécie de ponto de vista.

2. A palavra teria surgido da boca de um baiano com B maiúsculo, que enquanto exercia o esforço sobre-humano de balançar sua rede, soltou essa: “Oxê meu Rei, mas hoje eu tô é cuma indiossincrasia da gôta…”

Ah, vá! Uma palavra desse tamanhão só para dizer que você tem opinião ou preguiça? E os índios, onde ficam?

Pra falar bem a verdade, não fiquei convencido com nenhuma das duas explicações. Afinal de contas, uma palavra de 15 letras, que supera titãs como CALEIDOSCÓPIO e PARALELEPÍPEDO deveria ter vindo ao mundo para expressar algo revolucionário, sagrado, maior. Algo... INDIOSSINCRÁTICO, saca???

Olha, faz o seguinte: se você encontrar um significado mais decente, escreve pra mim. Os Aurélio, os Houaiss e os Luft agradecerão... e o Trótski também!

...

***ERRATÍSSIMA:
Eis o motivo da ausência de 'Indiossincrasia' nos dicionários: na verdade, a palavra certa é IDIOSSINCRASIA! Sem o primeiro 'N', como informou meu camarada Anésio. E seu significado, como informa o avô de Chico Buarque, é:

1. Disposição do temperamento do indivíduo, que o faz reagir de maneira muito pessoal à ação dos agentes externos.

2. Maneira de ver, sentir, reagir, própria de cada pessoa.

Falha nossa... (e da Gazeta de Nova Piripirí!)


EM CARTAZ - A Culpa é do Fidel

VIA DE REGRA, filme com criança é sinônimo de filme bom (eu particularmente gosto demais de produções feitas sob a ótica infantil). No entanto, se o diretor não tiver em mãos atores mirins de talento, o resultado final pode ficar comprometido, o que vem acontecendo com uma certa frequência. Felizmente, esse não é o caso do brazuca 'O ano que meus pais saíram de férias', do chileno 'Machuca' e do francês 'A Culpa é do Fidel', que vai para as suas últimas semanas em cartaz.


A CULPA É DO FIDEL ('La Faute à Fidel', 2006)
Drama, 100 minutos.

Direção: Julie Gavras
Roteiro: Julie Gavras e Arnaud Cathrine, baseado no livro de Domitilla Calamai
Com: Nina Kervel-Bey, Julie Depardieu, Stefano Accorsi, Benjamin Feuillet

Sinopse: A vida da família da pequena Anna (Kervel-Bey) muda completamente após a morte de seu tio espanhol, um reacionário do governo Franco. Seu pai (Accorsi) e sua mãe (Depardieu) deixam sua espaçosa casa e seus trabalhos para trabalharem na eleição do chileno Salvador Allende, virando a vida de princesa de Anna de ponta-cabeça.

♠ Bastidores:
*Julie Gravas, diretora do filme, é filha do celebrado cineasta grego Costa-Gravas;
*Julie Depardieu é filha de Gerard Depardieu, astro maior do cinema francês contemporâneo;
*O filme é uma adaptação do livro Tutta Colpa di Fidel, da jornalista italiana Domitilla Calamai.

♠ Informações retiradas do site Omelete

Por que assistir: Apesar de ser classificado como drama, o filme é leve e muito divertido. A francesinha Nina Kervel-Bey não parece estar atuando em nenhum momento, tão autêntica e espontânea que é em suas reações e discussões com todos que a contrariam. Benjamin Feuillet está adorável no papel do irmão caçula, sempre com uma daquelas perguntas cabeludas que só uma criança inocente e viva é capaz de fazer. Com o mesmo pano de fundo de 'Machuca' (eleições e golpe do comunista chileno Allende), o filme de Julie Gravas sabe bem como dosar humor e tensão. Contudo, seu maior mérito está nas mensagens espalhadas de forma sutil e muitas vezes metafórica ao longo dos 100 minutos de fita, transmitidas a cada diálogo da família Dela Mesa, a cada troca da babá dos irmãos e a cada indagação da espivetada e geniosa Anna.


Avaliação: @@@@@ IMPERDÍVEL!!!

Trailer:





10 de fev. de 2008

O Gatinho ladrão


ÀS DUAS HORAS DA matina do domingão, um pacato policial do 190 atende assustado o telefone na delegacia:

- Por favor, mandem alguém aqui urgente, entrou um gato na minha casa!

O policial, sonolento, parece não ter entendido o que acabara de ouvir:

- Como assim, um gato na sua casa???

- Oras, 'como asim'... um gato! Ele invadiu a minha casa, e agora tá andando na minha direção!!!

- Não estou compreendendo, senhor. Você quer dizer um ladrão?

- Não, imbecil! Estou falando de um gato GATO, daqueles que faz miau e o caramba!

- Ué! E o que tem de mais um gato ir em sua direção?

- Tem que ele vai me matar!!! E você vai ser o culpado por isso, seu pamonha!

- Posso saber quem está falando?

- É o papagaio, kct!!!!



8 de fev. de 2008

EM CARTAZ - Onde os fracos não têm vez

TRAMA BEM AMARRADA, cenas abertas, takes espertos, diálogos envolventes, um grande ator em plena forma. Pronto: taí a fórmula prum filme de sucesso. 'Onde os fracos não têm vez', espirituosa tradução dada para um dos favoritos ao careca de ouro desse ano, segue a receita à risca. É um filme curto e grosso como o brilhante western killer de Bardem, com uma história sem metades contada e dirigida pelos talentosos irmãos Coen.

ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ ('No Country for Old Man', 2007)
Western/Drama, 122 minutos.



Direção: Ethan e Joan Coen ('Fargo')
Roteiro: Ethan Coen e Joel Coen, baseado na obra de Cormac McCarthy
Com: Javier Bardem, Josh Brolin, Tommy Lee Jones, Woody Harrelson

Sinopse: Um caçador (Brolin) encontra uma maleta com 2 milhões de dólares nas mãos de um traficante de drogas morto no deserto, após o fracasso de uma suposta transação. Para reaver o dinheiro, é enviado um assassino totalmente psicótico (Bardem), que entrará numa corrida de cão, gato e rato com o caçador e o veterano xerife local (Jones).

♠ Bastidores:
*'No Country for Old Man', título original do filme, é baseado no poema Sailing to Byzantium, do aclamado W.B. Yeats;
*O ator Heath Ledger, morto no mês passado, chegou a negociar sua participação no filme. Desistiu para poder descansar um pouco;
*Segundo Tommy Lee Jones, os irmãos Coen queriam rodar o filme todinho no Novo México, devido aos impostos do estado. Mas o veterano ator fez a cabeça dos diretores e convenceu a realizarem as filmagens no Texas;
*Os excêntricos irmãos Ethan e Joel Coen assinam a edição da fita com o pseudônimo 'Roderick Jaynes'.

♠ Informações retiradas do site AdoroCinema

Oscar: o filme recebeu um total de oito indicações: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante (Bardem), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Edição de Som, Melhor Montagem, Melhores Efeitos Sonoros.

Por que assistir: As oito indicações acima não foram por acaso - 'Onde os fracos não têm vez' é realmente uma tacada de mestre dos brothers Coen. O espanhol Javier Bardem confirma o rótulo de melhor ator europeu de sua geração com uma atuação assombrosa. Seu Anton Chigurh (pronuncia-se Sugar) fura a fila e entra desde já para a restrita galeria dos melhores psicopatas do cinema. Metódico, frio e sarcástico, ele dá o tom da fita, que apesar das duas horas de duração não chega a cansar em nenhum momento. Vale ressaltar a bela participação de Brolin no papel do caçador sagaz e durão, que resistirá até o fim à implacável perseguição de Chigurh. O único senão fica por conta do final, artístico demais para o Holly taste.


Avaliação: @@@@ FILMAÇO!

Trailer:







7 de fev. de 2008

Quem vai ficar com a Busha?


COM O MARASMO e as cinzas deixados pela quarta-feira pós-folia, as eleições presidenciais no Brasil seguem longe do foco da grande imprensa. Lula vai cozinhando seu legume de idéias e intenções em fogo brando, ao passo que sinaliza com o atendimento da vontade do 'povo', devidamente abastecido com a farinha e as acrobacias de seu pão e circo bem intencionado. José Serra e Aécio Neves, por sua vez, seguem sob os holofotes das câmeras oportunistas e são todos prosa nas entrevistas dadas nos camarotes, enquanto confabulam nos camarins de penas negras e bicos compridos, numa trama que deve resultar em uma parceria protocooperativa como a de Batman & Robin. Resta saber quem será o homem-morcego.

Enquanto isso, o pau come solto nas eleições da terra de Mel Rose, Heroes e Friends. No páreo (até o momento), estão as três figuras acima, que disputarão as prévias de seus partidos. Pra quem não conhece as feras, vale a pena dar uma chuchada na história do trio. Afinal de contas, um deles vai suceder Uncle George no comando do mundo, e num momento deveras conturbado - por motivos que vão de Recessão econômicA a CháveZ.

Em homenagem aos nipônicos, vamos da direita pra esquerda da imagem:

Hillary Clinton: não tem como pensar em Hillary sem lembrar do folclórico caso da voluntariosa estagiária Mônica Chupinsky, que deu a seu marido Bill, então comandante da Casa Branca, o que certamente ela não fazia de forma competente. Primeira-dama por oito anos e senadora desde 2001, se destacou por seu ímpeto na luta pelos direitos da mulher e bem-estar das crianças pelo mundo.

Entre seus êxitos, conseguiu a verba que custeou a pesquisa de doenças graves como asma e câncer de próstata, além de atuar em frentes contra a violência nas escolas, de vacinação em larga escala e da prevenção do câncer de mama. Foi também uma das raras figuras mundiais a contestar o tratamento dado pelo Talibã às mulheres afegãs.

Por contar com o apoio do eleitorado feminino em massa, leva uma ligeira vantagem em relação a Obama nas eleições do partido democrata. É de se esperar que, caso consiga a façanha de ser eleita (nunca antes uma mulher chegou tão longe), suas decisões na maior cadeira da Casa Branca apaguem a péssima impressão deixada por Bush, e leve junto o fatídico gesto que grudou à sua imagem - coincidentemente, concedido na mesma cadeira.

Barack Obama: com quase nome de terrorista-mais-procurado-do-globo, Obama vem surpreendendo nas pesquisas, e no desprendimento que apresenta em todos os seus discursos. Negro, vigoroso, astuto, jovem (tem 'apenas' 47 anos). Filho de um queniano, o senador nascido na bela Honolulu reúne todas as características que atraem o eleitorado jovem, que é justamente quem o está credenciando a disputar palmo a palmo com Hillary a preferência dos democratas.

Sua eleição certamente seria a que mais móveis mudaria em Washington, e que daria maiores esperanças aos que sentem falta da pegada progressista-maciota de Bill Clinton.

John McCain: na primeira vez que ouvi esse nome, duas idéias desconexas me vieram à cabeça: Será que esse cara é o dono das batatas fritas congeladas? Ou seria ele mais um daqueles gatilhos de filme de faroeste, sempre prontos a sacar sua pistola na porta do saloon, após desafiar o bando dos bandidos de dente podre? 'Hey, McCain! Dê o fora daqui a-g-o-r-a, ou mandaremos chumbo nessa sua cara de Donut vencido'. Pá! Pá! Pá!

De uma certa forma, cheguei perto. John McCain não é cowboy, mas é o escolhido da ala republicana para duelar com os democratas. E não é o cara das batatinhas, mas é um empresário de sucesso, e Senador há 21 anos. Como informação adicional - num asterisco deveras importante -, o escolhido de Bush é veterano da famigerada Guerra do Vietnã, de onde voltou com uma medalha de honra no peito e o respeito do presidente Nixon.

Independente de seu adversário McCain deve, a exemplo de seu antecessor, receber uma enxurrada de votos da numerosa casta conservadora do país. Votos esses que podem levar os republicanos a completar 12 anos no poder, fazendo tremer os milhares de soldados que se encontram sobre o túmulo de Saddam.


...

Grosso modo, seja qual for o vencedor, a coisa não mudará de figura para o pessoal que acaba de guardar as fantasias e abadás. Mesmo porque Hollywood, o Google e o McDonalds continuarão a todo vapor aqui embaixo. Vai dizer que não?




EM CARTAZ - A Lenda do Tesouro Perdido 2

FILMES DE AVENTURA geralmente são muito bem aceitos pelos espectadores. Não são aqueles que ficam eternamente nas bilheterias, conquistam vários carecas de ouro e tornam-se clássicos. Em compensação, são os que sustentam as locadoras, e dificilmente deixam de ser lançados nos cinemas nacionais. Vez ou outra, encontramos até boas continuações como...



A LENDA DO TESOURO PERDIDO – LIVRO DOS SEGREDOS (‘National Treasure: Book of Secrets', 2007)
Drama, 137 min.

Direção: Jon Turteltaub
Roteiro: Cormac Wibberley e Marianne Wibberley
Com: Nicolas Cage, Jon Voight, Diane Kruger, Helen Mirren, Justin Bartha.

Sinopse: O caçador de tesouros Ben Gates (Nicolas Cage) parte para mais uma aventura. Quando uma página perdida do diário de John Wilkes Booth (Christian Camargo) aparece, o tataravô de Ben se vê como o principal conspirador da morte de Abraham Lincoln. Determinado a provar a inocência de seu ancestral, Ben segue uma série de pistas internacionais para tentar salvar o sobrenome de sua família. Enquanto isso, percebe que há um grande tesouro por trás de toda a história.

♠Bastidores:
*Devido à sua participação em ' A Rainha', a atriz Helen Mirren foi convidada para um encontro com a rainha Elizabeth II. A veterana atriz não pôde aceitar o convite por estar rodando a sequência de 'A Lenda do Tesouro Perdido';
*O diretor de fotografia Amir M. Mokri foi substituído por John Schwartzman vários meses após o início das filmagens.

Informações retiradas do site AdoroCinema

Por que assistir: Se você gostou do primeiro, vai curtir esse também. O filme é, acima de tudo, muito divertido. Com o mesmo elenco - mas com um novo tesouro - prende a atenção do começo ao fim. É daqueles que faz você sair caçando pistas em qualquer frase ou pedaço de papel, e que te faz pensar ‘Cara...MBOLA, será que existe um tesouro desse?' Ah! Justin Bartha, que faz o papel de Riley Poole ( o amigo de Nicolas Cage que o ajuda na procura do tesouro), deu um upgrade considerável em seus atributos físicos nessa continuação. Vale conferir.

Avaliação: @@@ LEGALZINHO…

Trailer:





EM CARTAZ – Meu Monstro de Estimação

'MONSTROS NÃO EXISTEM' - é o que ouvimos desde que começamos a assistir e entender os desenhos animados, invariavelmente repletos de vilões deformados e gosmentos. Mas, verdadeiros ou não, os seres dos desenhos, contos de fada e da nossa imaginação estão cada vez mais presentes nos filmes, como pode-se atestar pelos orcs de Senhor dos Anéis, elfos domésticos e criaturas mágicas do Harry Potter, os Dragões de Eragon e agora o cavalo da água de Meu Monstro de Estimação, a famosa lenda do terrível Monstro do Lago Ness, que você vê logo abaixo.


MEU MONSTRO DE ESTIMAÇÃO (‘The Water Horse: Legend of the Deep’, 2007)
Aventura, 111 min.


Direção: Jay Russell (‘Brigada 49')

Roteiro: Robert Nelson Jacobs, Dick King-Smith

Com: Alex Etel, Emily Watson, Ben Chaplin, Priyanka Xi

Sinopse: Angus MacMorrow (Alex Etel) é um garoto solitário que vive com sua mãe e sua irmã à espera de seu pai, que combate na guerra. Um dia, descobre um misterioso ovo na beira da praia (ahá!), que dá origem a uma estranha criatura (aháá!), que o levará a uma jornada inesquecível e única (ahááááá!).


Bastidores:

* O roteiro é baseado no livro 'Meu Monstro de Estimação', de Dick King-Smith;
* Os efeitos especiais foram criados pela Weta Digital, a mesma da trilogia 'O Senhor dos Anéis', 'King Kong', e 'As Crônicas de Nárnia';
* Um boneco foi usado para interagir com os atores nas cenas em que o cavalo da água, que recebe o nome de Crusoé, dá o ar da graça.

Por que assistir: Você pode pensar: ‘putz, lá vem eles com outro daqueles filmes infantis com um menino que se sente sozinho e fica melhor amigo de um bichinho’. Seu danadinho, como adivinhou? É por aí mesmo. Mas, venhamos e convenhamos: não deixa de ser bonitinho! Para quem gosta de filmes no estilo 'Free Willy', essa é uma boa escolha, mas não espere nada mais do que um entretenimento de bom gosto. Nada de dar uma de Sherlock Holmes das entrelinhas, ou de partir para analogias do filme com acontecimentos da sua vida. Para quem vibra com o termo, é uma 'Superprodução', com belas tomadas e um turbilhão de efeitos. Mas que em breve será exibido mês sim, mês não na Sessão da Tarde.



Avaliação: @@@ LEGALZINHO...



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5 de fev. de 2008

Marcha à ré

Baile de Carnaval dos tempos de Zezé e sua cabeleira

SE VOCÊ PASSOU esse Carnaval em algum lugar da região sudeste - e se um surto de amigdalite não te pegou de última hora -, provavelmente teve contato com o ruído que tomou conta dos trios, carros e postos de gasolina da cidade eleita para curtir a folia. Digo ruído, porque de música o 'funk do momento' não tem nada: não tem melodia, não tem refrão, não tem sequer um instrumento de apoio - heresia comum quando se trata do ritmo que deixou o subúrbio carioca para tomar conta de toda e qualquer festa com média de idade inferior a três décadas.

A seguir, um trecho da letra do famigerado hit, para você ver que minha implicância não é sem motivo:

Pra dançar créu tem que ter disposição
Pra dançar créu tem que ter habilidade
Eu venho te lembrar que ela não é mole não
Eu venho te falar que são cinco velocidades

A primeira é devargazinho é só aprendizado, hein
É assim ó: Crééééééééuuuuuuuuuuu (3x)
Se ligou, de novo! Crééééééééuuuuuuuuuuu (3x)

Número dois!
Crééu, crééu, crééu, crééu, crééu, crééu
Continua fácil né, de novo:
Crééu, crééu, crééu, crééu, crééu, crééu

Numero três!
Crééu, crééu, crééu, crééu, crééu, crééu
Crééu, crééu, crééu, crééu, crééu, crééu
Tá ficando difícil, hein?
Crééu, crééu, crééu, crééu, crééu, crééu
Crééu, crééu, crééu, crééu, crééu, crééu

Agora eu quero ver na quatro!
Créu, créu, créu, créu, créu, créu (...)
Tá aumentando mané!
Créu, créu, créu, créu, créu, créu (...)


E aí, que talz???

Chamo a atenção do tal do Créu não para pedir por letras profundas e grandes melodias, afinal de contas o Carnaval tá aí justamente para a gente relaxar, desestressar e - de acordo com o traquejo do cidadão - requebrar e mexer as cadeiras a valer. No entanto, vale traçar aqui um paralelo entre o som da festa mais popular do país com o momento que ele vive, culturalmente falando. Explico:

Nos anos 50, 60 e 70, quando uma mera coxa à mostra era motivo de frisson entre os rapazes - e de uma boa estalada do cinto do pai em casa -, imperavam as Marchinhas nos Bailes de Carnaval. Todo mundo fantasiado cantando, dançando e fazendo trenzinho ao som da Pipa do vovô, da Cabeleira do Zezé, da Bruxa que vem aí, do Índio que quer apito e outras tantas canções inteligentes e festivas, que faziam dançar desde a menininha de sete anos até o vovô de setenta.

A década de 80 inaugurou entre os foliões a era da Axé Music, ritmo anfetaminado que transbordou dos trios de Salvador para os bailes e festas de todo país. Chiclete com Banana e Asa de Águia são duas das bandas pioneiras do estilo, que embora contasse com temas menos espirituosos que os das marchinhas, ainda trazia o amor, a alegria e a diversão em suas letras.

Não demorou muito e a Banda Eva de Ivete Sangalo, o É o Tchan das Sheilas, o Araketu de Tatau e os cantores Daniela Mercury, Netinho e Ricardo Chaves se juntaram às bandas de Bell e Durval. Os reforços deram um gás extra ao ritmo baiano, que seguiu reinando absoluto nos anos 90, deixando as marchinhas para os bailes da saudade e os estádios de futebol ('Caiu na rede é peixe, lê-lê-á...').

Como - cerveja e futebol à parte - o brasileiro enjoa rápido das coisas, o axé (salvo a insistência de alguns poucos remanescentes como Babado Novo e Jammil) perdeu espaço, e viu o funk tomar conta das baladas, festas, trios e bailes carnavalescos do centro-sul. Atenção para a substituição: sai o Arerê, a Mila, a Manivela e a Dança do Vampiro e entram o Cerol na mão, a Eguinha Pocotó, o Parapapapapá e - olha ele aí - o Créu!

Não adianta chiar - a galera do Pancadão chegou mesmo para ficar. Seu pacote, além daquela batida-padrão que você bem conhece, inclui a transformação das meninas em 'cachorras' e da rapaziada em 'tigrões'. Sem falar nas letras que, quando não são um Kama Sutra à la Morro do Dendê, exalam ritmo e poesia (como você pode notar aí em cima).

Pois é, gente boa... ao menos no quesito 'samba-enredo', nosso carnaval já escolheu sua nova marcha: a ré.


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