8 de abr. de 2008

Luto no céu.


O CRIME QUE ABALOU o país na última semana já caminha para sua solução, mas só agora tive coragem de falar a respeito. Falar não, sussurrar. É difícil buscar a voz nas cordas do ringue diante de tamanha atrocidade, crueldade e sangue frio - combinação que me fez lembrar da triste história da família Clutter, narrada pelo pequeno grande polegar Truman Capote, espécie de repórter em extinção nos dias cinzentos em que nos encontramos.

Quando parecia que o caso do garoto João Hélio, desfigurado pela cal das ruas cariocas, teria atingido o ápice da brutalidade humana, eis que São Paulo protagoniza um assassinato ainda mais sombrio e cruel. Sim, porque ao contrário da tragédia do Rio de Janeiro, quando João ficou acidentalmente preso ao cinto de segurança, aqui Isabella apanhou, foi asfixiada e jogada de uma altura de 20 metros, para ser levada pelo mesmo anjo que veio em socorro de João, minutos depois de afundar no jardim de seu prédio.


Diante da perplexidade que tomou conta da população, um combo de sentimentos se mistura dentro do peito dos que acompanham o caso, ainda atônitos. A maioria deles explosivos, vermelhos, içados de um lugar do corpo que parece só existir em momentos de profunda revolta, quando todas as outras coisas perdem o sentido. A polícia, a imprensa e os telespectadores querem justiça a qualquer preço. Se for com as mãos, melhor.

Volta-se a falar em pena de morte, em mudanças radicais e outras possibilidades de erradicar uma fúria que - queiram ou não - é inerente à condição humana. Desenterram milhares de casos semelhantes pelo mundo, num pout-pourri colérico que só faz alimentar a sede de vingança que goteja da boca de gente que não aguenta mais abaixar a cabeça e fingir que não é com elas.

No céu não. Lá, as coisas funcionam de outra maneira. Enquanto o anjo deixa Isabella na companhia das outras crianças, que giram numa ciranda colorida e entusiasmada, os outros sentam em suas nuvens e observam o mundo lá embaixo, desapontados. Cansados de tanto ir e vir, enxugam a lágrima que brota no canto dos olhos, alçam vôo e tingem o céu de preto, numa contemplação àqueles que não compreenderam ainda o sentido metafórico dos quatro sinais matemáticos.

Boa noite, Isabella. Durma com os anjos.


6 comentários:

Anônimo disse...

Boa noite, Isa.

Anônimo disse...

Boa noite uma pinóia. Eu quero JUS-TI-ÇA!!!!!!!!!!

Thiago Padula disse...

Pensei em escrever algo sobre isso, acabei guardando a vontade na gaveta. Mas nessa história toda, o que mais me incomoda (além, claro, da atrocidade em si) é essa onda de todo mundo achar que é juiz e que pode apontar o dedo na cara de alguém e chamar de culpado. Enquanto não está tudo apurado, acho preocupante - e deprimente - que se faça quase uma caça às bruxas baseada somente num achismo oco. Paixão demais e razão de menos costuma ser uma combinação perigosa.

Anônimo disse...

Caro Padula, concordo com sua colocação acima. No entanto, aqui TUDO indica que o pai e a madrasta foram os autores do crime. Caso contrário, temos aí o roteiro de um thriller como há muito não se vê.

Kimera Kenaun disse...

é uma história muito triste... fora a violência cometida contra ela, me irrito master com os repórteres que respeitam muuuuiiiito a privacidade da família...fala sério =/

Anônimo disse...

Bel,
As vezes a profissao de jornalista me irrita demais. Nao e por ser noticia que se passa por cima da privacidade e ate da intimidade da familia, atletas, celebridades etc.

Belo texto, MJ!
Boa noite, Isa.

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