13 de out. de 2008

Requentar é viver: No aconchego do seu lar

EDREDON, DVD, pizza, lasanha congelada, pipoca de microondas, brigadeiro, telefone, tevê a cabo, internet, jornal, revista por assinatura, sofá, bicicleta ergométrica, esteira, cadeira de balanço, abajour. Em tempos que pedem, ordenam, imploram pela justiça, pela mobilização popular, pelo despertar do berço esplêndido e pelo grito de basta, não faltam motivos para você ficar... em casa.

A tendência ao isolamento (individual ou familiar), detectada pelos profissionais de marketing há quase duas décadas, vai delineando o perfil do cidadão moderno. De saco na lua ou alheio aos problemas do país, ele veste a touca do silêncio, os óculos da indiferença e mergulha fundo no mundo que criou para si próprio. Uma carreira solo, que troca o rótulo da banda e os moshs compartilhados por seu nome e sobrenome impressos em letras garrafais nas paradas de sucesso. Adeus pique-bandeira. Olá, IPhone!

Além das ferramentas tecnológicas e outros apetrechos customizados que celebram o individualismo ambulante, chama a atenção a quantidade de serviços e artifícios desenvolvidos para você ficar ali, seguro e confortável no aconchego do seu lar.

Se você tem preguiça de ir ao mercado, veja só: suas compras podem ser feitas online, em pouco mais de 15 minutos. Se você não gosta de pizza, fique tranquilo: o yakissoba, as esfihas e até a batata frita chegam à sua porta. Se o frio e a chuva o desanimam de caminhar até a locadora, sem problema: eles entregam os filmes aí pra você, sem cobrar nenhum adicional pelo serviço. Basta um telefonema ou uma boa conexão, e será prontamente atendido.

Agora, cá entre nós: pra quê sair de casa para comprar o jornal, o pão e escolher as frutas se tem gente que faz isso por você? Abra sua geladeira, sente no sofá e relaxe, meu caro. Assista uma tevezinha! As séries gringas estão pegando fogo, e aquele bolinho de aipim com queijo da Sadia tá quase pronto. Mas não exagere - daqui a pouco seu personal trainer está aí, a manicure vem dar um talento nas unhas da patroa e o rapazinho 'do passeio' chega para dar um rolê com o seu cachorro.

Enquanto isso, do lado de fora do iglu, o mundo dá conta de apagar aos poucos o que ainda resta do sentido da palavra 'coletivo', hoje restrita à acepção do transporte. As feiras, festas e brincadeiras vão perdendo as ruas, o circo e o teatro perdem seu aplauso, os estádios de futebol perdem as famílias e também o torcedor que ama o time de coração, e quer prestigiá-lo sem que para isso seja necessária uma torcida intermediando sua paixão.

Até os colégios e faculdades resolveram pegar as mochilas e entrar na reive. O ensino à distância, que começou com simples cifras de violão e o basic mode do inglês, hoje contempla matérias dos mais diversos cursos. É a inovadora aula semi-presencial, onde basicamente o professor digital ensina o aluno virtual a se googlerizar. Com direito a mural de opiniões, solução de dúvidas via e-mail e claro: o som no último volume e aquele hot pocket esperto dando conta da larica.

Daqui a pouco, faremos todos os votos de parabéns, feliz natal e ano novo via cartão virtual ou SMS (hein? Isso já acontece aí?? Apressadinho!), iremos para a balada no Second Life e teremos igrejas com culto online (pela tevê já rola faz tempo).

Quer se confessar com o padre, ouvir a palavra do rabino ou aquela mensagem de fé do pastor? Acesse o Youtube e o Googletalk. Pecou? Entre no MSN e mande sete Ave-Marias e onze Pais-Nosso. Quer combater a fome, promover a paz mundial e lutar por um mundo melhor? Participe das respectivas comunidades do orkut e deixe seu scrap de protesto.

Exagero de minha parte?

Honestamente, creio que não. Sinceramente, espero que sim.




9 comentários:

Anônimo disse...

Essa vc bateu forte, hein Vic????
Vou dar uma pensada larga, e depois posto minha opinião.

Anônimo disse...

HONESTAMENTE?
CREIO QUE SIM.

Anônimo disse...

Não posso falar muita coisa, sou praticamente um homem casulo....

Mariana Aragão disse...

Vic... menina engaja, Linda... uma empreendedora social!
Infleizmente as pessoas esqueceram que a participação em movimentos sociais funcionam são mais eficases se forem coletivas...
Logico que ficar em casa é bom, mais sair e dar uma olhada no mundo que vivemos faz bem... Assim podemos refletir e pensar em mudanças!

Bjos para os lindos do Clube dos pentelhos

Anônimo disse...

Não é exagero. O mundo está cada vez mais individualista. Basta realizar um trabalho em grupo para vc notar isso. As pessoas se perdem completamente na divisão de tarefas, não conseguem entender o papel de cada um, alguns se isolam e monopoliza as tarefas, outros deixam pra lá pq sempre tem um "idiota" que vai fazer isso (já que em casa é assim, basta um clique que alguém realiza a tarefa pra vc). É claro que eu não considero a tecnologia nenhuma vilã, já que é muito bom quando vc pode matar aquela vontade de comer um Quarteirão do Mc quando se está no trabalho. Mas toda essa comodidade deve ser usada apenas quando necessário, já que nada paga a sensação de autonomia e o calor humano.

Anônimo disse...

Hmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm..................................
CONCORDO!

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
d. disse...

Belo post.
Concordo também e ao mesmo tempo, me encaixo na maioria dos exemplos.
Mas aí surge uma outra questão... Como não aproveitar dessas conveniências se o tempo parece diminuir a cada tique-taque?
Quer exemplos?
Nas terças, enquanto escuto e assisto uma hora e meia de aula de marketing, a manicure faz minhas unhas. Enquanto isso, o menino do mercado, ou da farmacia deixa minhas compras em casa (e sem acréscimo de entrega). Depois, eu passo a aula pro mp-algum numero e escuto novamente no outro dia enquanto organizo as coisas do trabalho e depois dou alguns telefonemas do tipo " oi, sr dona da loja tal, por gentileza, pode pedir para que seu cobrador passe aqui em meu trabalho receber?" , " oi Fer! Deixei o Jean (meu cão e é pra ler 'Dim') solto no quinta. Alguém pode buscá-lo para o banho da semana?".
É de lei...
Acessos os sites, compro meus livros e parafernálias com frete *di grátis*.
O professor de violão me dá uma aula em casa e outra no meu horário de almoço (fico sem almoçar neste dia).
Não tem como sair com o namorado no final de semana, sempre estou cansada de mais pra isso, assim, deito na esteira massageadora comprada virtualmente, pego os três controles remotos, o celular e relaxo por horas ( uma ou duas) até conseguir aliviar um pouco do stress da semana e a seguir, ter que adiantar algum serviço.
A comida é comprada. O unico problema é que por morar no fim do mundo, as comidas lixo-rápidos não existem e por consequencia, não entregam. Daí tenho que me dar ao trabalho de ir buscar meu almoço, perder vinte minutos e ir pra casa dar algumas garfadas enquanto leio o jornal (só consigo ler o jornal nesta hora).
Gosto de tudo isso? Claro que não.
Gostaria de acordar as oito, tomar um belo café com frutas compradas por mim mesma, dar um passeio com o *Dim*, voltar pra casa, preparar o almoço, cozinhar feijão, não tomar refrigerante, tomar banho por mais de cinco minutos, deixar o cabelo secar naturalmente enquanto passo hidratantes na pele, sentar na varanda e ler qualquer coisa que eu tenho ido até a banca comprar e depois ir pra aula/curso compartilhar meu belo dia com meus belos amigos durante quatro belas horas.
Vida mecanica imposta, quem sabe, por Dari. But, não há outra alternativa.

E como perdi alguns minutinhos aqui escrevendo este "livro" vou ter que acelerar o processo aqui... Bye!

Anônimo disse...

A diferença do remédio para o veneno é a dose.

Tudo, exatamente tudo que fazemos depende do objetivo que temos em mente. Você pode ter um revolver para se defender ou para sair matando gente por aí.

As armas estão nas nossas mãos e se cada um opta pelo individualismo, é uma opção que deve ser respeitada. Em contrapartida, podemos usar o supermercado como facilidade para um churrasco com a tchurma! Coletividade mantida e gozo de praticidade.

Está nas mãos de cada um, basta saber o que quer e a forma de utilização.

Parabéns pelo post, sou suspeito, fã de cada um dos pentelhos.

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