O contador de histórias
SE VOCÊ PROCURAR POR IMAGENS de J.D. Salinger em qualquer lugar, irá encontrar praticamente variações dessa aí em riba. Pretibranca, gravata, perfil. Falta de expressão, vida, carisma.
Pois a foto - e a personalidade reclusa do escritor, que vivia em um semi-confinamento - são justamente o contrário de suas (poucas) obras. Salinger se notabilizou por um estilo eclético, humor ácido, ironia fina, textos ricos, palavras fulminantes, personagens exalando vida e personalidade própria.
Seu maior hit, 'O Apanhador no Campo de Centeio' (60 milhões de livros vendidos), é um clássico atemporal. O anti-herói Holden Caulfield representou, representa e sempre representará os desejos de liberdade e independência dos meninos e meninas de todas as idades ávidos por uma revolução (interna ou externa).
Mas foi no mundo dos contos que o escritor atingiu a perfeição. Utilizando diversos membros da nada comum família Glass (que teve uma tentativa pífia de representação nas telonas no "Os excêntricos Tenembauns"), Salinger conseguiu em pouco mais que uma centena de páginas fazer o que milhões de escritores espalhados pelo mundo jamais conseguirão: criar histórias tão boas que parece que elas sempre existiram, tamanha sua naturalidade e percepção do outro.
"Um dia ideal para os peixes-banana", "Pouco antes da guerra com os esquimós", "O Gargalhada", "Para Esmé, com amor e sordidez", "Lindos lábios e verdes meus olhos", "Teddy". Todos eles se encontram na coletânea Nove Estórias, livreto que vale por uma obra completa.
Semana passada, aos 91 anos, o contador de histórias Jerome David subiu. Mas sua mini-obra (que conta ainda com outros dois ótimos livros que deixarei para você pesquisar) ficou para inspirar milhões de escritores e aspirantes da liberdade, como seu famoso apanhador.
"É engraçado. A gente nunca devia contar nada a ninguém. Mal acaba de contar, a gente começa a sentir saudade de todo mundo."
(Holden Caufman)
2 comentários:
Alguem tem Apanhador pra me emprestar? Meninos???
Tentei ler O Apanhador há uns 10 anos. Na mesma época, assisti Beleza Americana.
O livro não vingou, parei no comecinho. Mas causou a tal revolução interna e externa citada no texto. Larguei o curso que detestava e resolvi ser pobre pelo resto da vida. Ou seja, fiz Jornalismo.
Como tenho tendências depressivas o suficiente, prefiro deixar como está. Vai que resolvo que minha vocação é, sei lá, astróloga, aos quase 30 anos? Não dá pra ter 18 o resto da vida né?
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