NÃO MORRO DE AMORES por São Paulo, e também não vou com a fuça do Washington Olivetto - não me perguntem porquê. Maaaaaaassss, como nem tudo que pula é canguru, me rendi a esse sincero - e não tão novo - texto/depoimento sobre a cidade que não dorme.
"Alguns dos meus queridos amigos cariocas têm mania de achar São Paulo parecida com Nova York. Discordo deles. Só acha São Paulo parecida com Nova York quem não conhece bem a cidade. Ou melhor, quem a conhece superficialmente e imagina que São Paulo seja apenas uma imensa Rua Oscar Freire.
Na verdade, o grande fascínio de São Paulo é parecer-se com muitas cidades ao mesmo tempo e, por isso mesmo, não se parecer com nenhuma.
São Paulo, entre muitas outras parecenças, se parece com Tóquio, no bairro da Liberdade. Se parece com Roma, ao lado do Teatro Municipal, se parece com Nova York no Ibirapuera, se parece com Nova York no prédio do Banespa, se parece com Paris no Ipiranga, se parece com Salvador na estação do Brás, se parece com Chicago na Marginal Pinheiros. São Paulo se parece com Munique em Santo Amaro, Lisboa no Pari, com o Soho londrino na Vila Madalena e com a pernambucana Olinda na Freguesia do Ó.
São Paulo é um somatório de qualidades e defeitos, alegrias e tristezas, festejos e tragédias. Tem hotéis de luxo como o Fasano, o Emiliano e o L'Hotel, mas também tem gente dormindo debaixo das pontes. Tem o deslumbrante pôr-do-sol do Alto de Pinheiros, e a exuberante vegetação da Cantareira, mas também tem o ar mais poluído do país. Promove shows dos Rolling Stones e do U2, mas também promove acidentes como o da cratera do metrô e o do avião da TAM em Congonhas.
São Paulo é sempre surpreendente.
Um grupo de meia dúzia de paulistanos significa um italiano, um japonês, um baiano, um chinês, um curitibano e um alemão. São Paulo é realmente curiosa. Por exemplo: têm diversos grandes times de futebol, sendo que um deles leva o nome da própria cidade e recebeu o apelido 'o mais querido'. Mas, na verdade, o maior e o mais querido é o Corinthians (há controvérsias), que tem nome inglês, fica perto da Portuguesa e foi fundado por italianos, igualzinho ao seu inimigo de estimação, o Palmeiras.
São Paulo já foi chamada de 'o túmulo do samba' por Vinicius de Moraes, coisa que Adoniran Barbosa, Paulo Vanzolini e Germano Mathias provaram não ser verdade, e, apesar da deselegância discreta de suas meninas, corretamente constatada por Caetano Veloso, produziu chiques como Dener Pamplona de Abreu e Gloria Kalil.
Em São Paulo se faz pizzas melhores que as de Nápoles, sushis melhores que os de Tóquio.
Lagareiras melhores que as de Lisboa e pastéis de feira melhores que os de Paris - até porque em Paris não existem pastéis, muito menos os de feira. Tem ótimos restaurantes, de categoria internacional, como o maravilhoso Terraço Italia, localizado no 44º andar do edifico Italia.
São Paulo teve o bom senso de imitar os botequins cariocas, e agora são os cariocas que andam fazendo as suas imitações paulistanas. São Paulo teve o mau senso de ser a primeira cidade brasileira a importar a CowParade, uma colonizada e pavorosa manifestação de subarte urbana, e agora o Rio faz o mesmo. São Paulo se poluiu visualmente com a CowParade, mas se despoluiu com o Projeto Cidade Limpa. Agora tem de começar urgentemente a despoluir o Tietê para valer, coisa que os ingleses já provaram ser perfeitamente possível com o Tâmisa.
Mesmo despoluindo o Tietê, mantendo a cidade limpa, purificando o ar, organizando o mobiliário urbano, regulamentando os projetos arquitetônicos, diminuindo as invasões sonoras e melhorando o tráfego, São Paulo jamais será uma cidade belíssima. Porque a beleza de São Paulo não é fruto da mãe natureza, é fruto do trabalho do homem.
São Paulo tem o maior centro de exposições da America do Sul, O Anhembi.
São Paulo tem o segundo maior Terminal Rodoviário do mundo, perdendo apenas para o Terminal Rodoviário de Nova York. Em seu interior há um Shopping Center. São Paulo é o maior centro de compras do Brasil, e também o maior Centro Cultural do País. A cidade tem mais de 120 teatros e casas de show, 71 museus e 11 Centro Culturais, como a Bienal do Livro, o Centro Cultural São Paulo, o Centro Cultural do Banco do Brasil, o Centro Cultural do Banco Itau, o Centro Cultural de Israel e outros.
E ainda na cultura, podemos citar o carnaval de São Paulo, que é o segundo melhor do País, perdendo apenas para o carnaval do Rio de Janeiro. É tambem em São Paulo que estão as melhores rodovias do Brasil, semelhantes às autopistas da Europa.
Reside, principalmente, nas inúmeras oportunidades que a cidade oferece, no clima de excitação permanente, a mescla de raças e classes sociais. São Paulo é a cidade em que a democratização da beleza, fenômeno gerado pela miscigenação, melhor se manifesta. São Paulo é uma cidade em que o corpo e as mãos do homem trabalharam direitinho, coisa que se reconhece observando as meninas que circulam pelas ruas.
E se confirma analisando obras como o Pátio do Colégio (local de fundação da cidade), a Estação da Luz - onde hoje fica o Museu da Língua Portuguesa - o Mosteiro de São Bento, a Oca, no Parque do Ibirapuera, o Terraço Itália, a Avenida Paulista, o Sesc Pompéia, o palacete Vila Penteado, o MASP, o Memorial da América Latina, a Santa Casa de Misericórdia, a Pinacoteca e mais uma infinidade de lugares desta cidade que não pode parar, até porque tem mais carros do que estacionamentos.
São Paulo não é geograficamente linda, não tem mares azuis, areias brancas nem montanhas recortadas.
Nossa surfista mais famosa é a Bruna, e nossos alpinistas, na maioria, são sociais. Mas, mesmo se levarmos o julgamento para o quesito das belezas naturais, São Paulo se dá mundialmente muito bem por uma razão tecnicamente comprovada.
Entre as maiores cidades do mundo, como Tóquio, Nova York e Cidade do México, em matéria de proximidade da beleza, São Paulo é, disparado, a melhor. Porque é a única que fica a apenas 45 minutos de vôo do Rio de Janeiro. E o mais importante: com essa distância nenhuma bala perdida pode alcançar São Paulo!
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